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sábado, 29 de agosto de 2009

Um exercío de observação


Uma Censura Jocosa do cotidiano: Bruno

Bruno (2009) é uma comédia americana nada próxima dos filmes da sessão da tarde da TV Globo. Comédia esta, que no sentido mais preciso da palavra carrega na sua narrativa uma forte intencionalidade, transformando o riso fácil do espectador numa total sensação de desconforto.

Pode-se atribuir alguns adjetivos a essa obra, tais como: Absurda! Apelativa!Genial! Chocante! sendo todas elas coerentes , expressando um universo da recepção desta obra de arte Ë claro, que para os espectadores (mais atentos) Bruno vai muito além de uma comédia sem graça.

Para aqueles que assistiram Borat (2006) Bruno é uma feliz continuação de um jeito peculiar de pensar e fazer cinema, que com as mesma s estratégias de abordagem Sacha Baron Cohen, amplia a percepção do real através da lente do ridículo.

O filme versa sobre o mundo fashion/midiático e sua indústria de reinventar sujeitos, uma verdadeira fábrica de ilusões, no qual a imagem projetada de si é muito superior do que a sua condição de ser. Ter fama, ser a fama é o que impulsiona o nosso Bruno, e para tanto ele se envolve numa série de excentricidades que é comum neste universo. Envolver-se em campanhas humanitárias ou adotar crianças africanas é apenas mais um dos clichês do personagem, mas que garantem a sua participação em um programa de auditório.

A partir da opção sexual do protagonista, o filme aborda a questão da homossexualidade, mas sem ser um filme gay , como Bubble (2006) ou Milk (2009) o que o torna imparcial em colocar na tela o comportamento gays, sem o juízo de valor, mas ainda trazendo a tona o pensamento equivocado de associar a opção sexual a uma doença ou uma anomalia, numa política de rotulação e exclusão. Bruno é uma verdadeira expurgação escrachada dos preconceitos de gênero ainda presentes na sociedade norte americana.

Não poderia deixar de comentar que o trabalho do protagonista vai além do patético ato de decorar ( internalizar!rsrsrsr) falas. Sacha Baron neste trabalho (e em Borat) coloca na cena todo o potencial criativo e o total desprendimento com os valores - este filme é marcado pela a exposição de um artista que nos proporciona a apreciar uma obra de arte com Vida e não panfletária.



Outras informações:
http://www.interfilmes.com/filme_21306_Bruno-(Bruno).html

Cinemas em Cartaz:
Espaço Unibanco - Salvador

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Um exercício de observação

Um recorte de luz em “Quando as Máquinas Param”

Espetáculo de graduação em Interpretação teatral / Ufba dos alunos Eliana Oliveira e Dado Ferreira o espetáculo “Quando as Máquinas Param”, texto de Plínio Marcos, foi dirigido pelo professor Harildo Deda e encenado do Teatro Martim Gonçalves no mês de agosto.
Quando as Máquinas Param apresenta um recorte da vida de sujeitos inserido numa realidade sócio-econômica, em que o desemprego sinaliza não apenas o descrédito no futuro, mas potencializa as fragilidades a vida humana. A encenação proposta possibilita o público a questionar o macro universo - as estruturas sociais - por meio da representação do micro universo - a vida de um casal.
Neste sentido, a proposta de iluminação cênica é dialética no sentido de ora coisificar o homem transformando-o em apenas uma peça da engrenagem, ora de humanizar as máquinas ao reforçar a sua importância na manutenção de uma ordem social vigente.
Diante de uma proposta de encenação realista, não cabe a utilização de grandes efeitos ou ainda de uma variedade de cores. Assim, a opção do iluminador foi utilizar a cor âmbar, azul, canhão de luz, blackout entre outros recursos.
No sentido de maior exemplificar a iluminação desta montagem, cito a cena na qual a mulher de Zé ouve a rádio novela. A cena é posterior a um blackout (utilizado para marcar os quadros), a atriz está sentada no escuro, escuta-se a rádio novela, a intensidade da luz vai lentamente aumentando tendo como foco a atriz sentada. A luz cria a atmosfera do sonho, da ilusão, do devaneio, assim, acompanhando o tempo dos fatos narrados a luz se ‘abri’ até por fim a luz tomar toda a casa, revelando-se o espaço do real, do concreto no qual aquela mulher chorosa é interpelada pelo seu marido.
Cito ainda, a luz projetada pela janela da cozinha na qual a mulher por olha os meninos na rua xingando ou que ela grita o seu marido. Estas passagens em sua maioria proporcionam o casal a dialogar sobre a vizinhança e a situação em que todos vivem fazendo o juízo de valor sobre o outro. A luz projetada, além de trazer uma forte simbologia do sol, possibilita o diálogo entre os mundos externos – a rua e o interno – a casa ou ainda das opiniões das personagens.
A utilização do canhão de luz trouxe-me inicialmente certa estranheza, pois me parecia ir de encontro a uma estética realista. Contudo, verifico que ela tem uma forte influência sobre o meu olhar como espectadora me focalizando um único ponto daquela encenação. Neste instante, verifico que está exprimido a essência dos próprios personagens por meio de um recurso que ‘recorta o tempo’.
A cena final do espetáculo com o canhão de luz, a música e o blackout manteve um suspense no ar, dando-me a sensação de que aquela história não teve o fim, pois ela está implicada em outras histórias e em outros indivíduos, num movimento dinâmico que vai além do palco do teatro.
Por fim, acredito que a proposta de iluminação vem reafirmar um lugar cotidiano e de banalidade que é presente na peça que a configura como uma obra atemporal, que por ser tão franca e as claras nada tem a dizer ao público... é nesse emaranhado de sensações permeadas de completa rotina que está o grande mote desta montagem.