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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Um exercício de observação

Um recorte de luz em “Quando as Máquinas Param”

Espetáculo de graduação em Interpretação teatral / Ufba dos alunos Eliana Oliveira e Dado Ferreira o espetáculo “Quando as Máquinas Param”, texto de Plínio Marcos, foi dirigido pelo professor Harildo Deda e encenado do Teatro Martim Gonçalves no mês de agosto.
Quando as Máquinas Param apresenta um recorte da vida de sujeitos inserido numa realidade sócio-econômica, em que o desemprego sinaliza não apenas o descrédito no futuro, mas potencializa as fragilidades a vida humana. A encenação proposta possibilita o público a questionar o macro universo - as estruturas sociais - por meio da representação do micro universo - a vida de um casal.
Neste sentido, a proposta de iluminação cênica é dialética no sentido de ora coisificar o homem transformando-o em apenas uma peça da engrenagem, ora de humanizar as máquinas ao reforçar a sua importância na manutenção de uma ordem social vigente.
Diante de uma proposta de encenação realista, não cabe a utilização de grandes efeitos ou ainda de uma variedade de cores. Assim, a opção do iluminador foi utilizar a cor âmbar, azul, canhão de luz, blackout entre outros recursos.
No sentido de maior exemplificar a iluminação desta montagem, cito a cena na qual a mulher de Zé ouve a rádio novela. A cena é posterior a um blackout (utilizado para marcar os quadros), a atriz está sentada no escuro, escuta-se a rádio novela, a intensidade da luz vai lentamente aumentando tendo como foco a atriz sentada. A luz cria a atmosfera do sonho, da ilusão, do devaneio, assim, acompanhando o tempo dos fatos narrados a luz se ‘abri’ até por fim a luz tomar toda a casa, revelando-se o espaço do real, do concreto no qual aquela mulher chorosa é interpelada pelo seu marido.
Cito ainda, a luz projetada pela janela da cozinha na qual a mulher por olha os meninos na rua xingando ou que ela grita o seu marido. Estas passagens em sua maioria proporcionam o casal a dialogar sobre a vizinhança e a situação em que todos vivem fazendo o juízo de valor sobre o outro. A luz projetada, além de trazer uma forte simbologia do sol, possibilita o diálogo entre os mundos externos – a rua e o interno – a casa ou ainda das opiniões das personagens.
A utilização do canhão de luz trouxe-me inicialmente certa estranheza, pois me parecia ir de encontro a uma estética realista. Contudo, verifico que ela tem uma forte influência sobre o meu olhar como espectadora me focalizando um único ponto daquela encenação. Neste instante, verifico que está exprimido a essência dos próprios personagens por meio de um recurso que ‘recorta o tempo’.
A cena final do espetáculo com o canhão de luz, a música e o blackout manteve um suspense no ar, dando-me a sensação de que aquela história não teve o fim, pois ela está implicada em outras histórias e em outros indivíduos, num movimento dinâmico que vai além do palco do teatro.
Por fim, acredito que a proposta de iluminação vem reafirmar um lugar cotidiano e de banalidade que é presente na peça que a configura como uma obra atemporal, que por ser tão franca e as claras nada tem a dizer ao público... é nesse emaranhado de sensações permeadas de completa rotina que está o grande mote desta montagem.

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