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quinta-feira, 12 de abril de 2007

Critica Cinematográfica


Amácio Mazzaropi (1912-1981) foi um gênio para a sua época. Não por criar uma estética nova para o cinema brasileiro, mas por criar uma indústria de cinema nacional independente, com salas de exibição sempre cheias. Todavia ao longo da história o cineasta sofreu com severas criticas dos intelectuais da sua época e vêm sofrendo com a omissão de acadêmicos e cinéfilos da atualidade por sua cinematografia. Todavia negar o sucesso e conquistas de Mazzaropi é negar a própria história do cinema brasileiro.
Mazzaropi surgiu no circo. Depois trabalhou no rádio. Logo em seguida estaria na televisão. Após um convite, entrou no cinema. Gostava de tudo que se comunicava com o público. Por isso em 1958 resolve investir todo seu patrimônio na montagem da P.A.M. FILMES (Produções Amacio Mazzaropi), visto que desde 1954 a Vera Cruz apresenta sérios problemas financeiros. Além de produzir, Mazza passa a controlar todo o processo de distribuição e recepção dos filmes no país.
Em entrevista a revista Veja do dia 28.01.1970, feita pelo jornalista Armando Salem, disponível no site www.museumazzaropi.com.br, podemos conhecer o discurso deste Produtor.
Ao ser indagado de quem seria seu público ele responde “Meu público é o Brasil, do Oiapoque ao Chuí. Eu loto casa em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Acre, Rondônia, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, ilha do Bananal.” O sucesso de seus filmes estaria no direcionamento dado a eles. Não sendo apenas um filme sobre os brasileiros, mas, sobretudo para os brasileiros. Nas suas obras ele trataria de assuntos sérios, mas com muita sutileza, envoltos pela comicidade. Ele queria que o público se divertisse e se identificasse com os personagens.
O Cinema Novo surgiria no país paralelamente a obra de Mazza. Para ele “Não, eu não tenho nada contra ele. Só acho que a gente tem que se decidir: ou faz fita para agradar os intelectuais (uma minoria que não lota uma fileira de poltronas de cinema) ou faz para o público que vai ao cinema em busca de emoções diferentes”.
O Cinema Novo, com uma linguagem mais complexa e, portanto de difícil compreensão afastava o público do cinema, apesar de ser ovacionada pela critica. O Cinema de Mazzaropi o que ocorria era o inverso. Todavia apesar de seus enredos serem tolos, previsíveis, era notório a preocupação estética do Produtor. Ele tecnicamente oferecia bons filmes para o seu público.
Em 1963 a P.A.M. Filmes, lançaria o filme “Casinha Pequenina”, filme colorido, 102 minutos, considerado a obra-prima do cineasta. A história tem como pano de fundo a situação dos escravos, a crueldade na qual eram tratados, a complacência de outros frente à situação e por fim a Abolição da Escravatura em 1988.
O personagem Chico (Amácio Mazzaropi) é casado com Fifica (Geny Prado) e tem dois filhos. Eles são empregados da fazenda do Coronel Pedro, que chantageado por Carlota (ela sabe que o coronel matou um homem) exige que ele case sua filha Inês com um bom partido. Essa é a trama principal do enredo. Sendo que Nestor (Tarcisio Meira) filho de Chico é a figura chave da trama, o mocinho que é enganado e usado. Ao se envolver efetivamente com a moça, ele renega a sua família e não acredita em estar participando de um golpe. No desfecho da história, os maus são punidos (ou morre) e os bons são justiçados (inclusive os escravos com sua libertação).
O filme “Casinha Pequenina” possui a presença marcante de valores familiares e de direitos humanos, mas não chega a questionar a sociedade da época. Possuindo apenas dois momentos musicais (ao contrário das Chanchadas), a narrativa é dramática (cômica e trágica), tendo figurinos e locações condizentes com o momento histórico retratado. Porém, encontramos alguns problemas na iluminação e no enquadramento, todavia devemos levar em consideração a precariedade dos equipamentos da época. Em certos as aspectos o enredo de “Casinha Pequenina” é até surpreendente (com a morte de Inês no final e a prisão do coronel), impressionando até o público do século XXI.
Com certeza assistir a obra de Mazzaropi, o famoso Jeca Tatu é uma obrigatoriedade a todos aqueles que pretendem trabalhar com cinema no nosso país. Não podemos cometer a injustiça de esquecê-lo no tempo. Pois Mazzaropi fez o que ainda hoje parece ser impossível em termo de produção cinematográfica.