Powered By Blogger

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Antropofagia, Tropicalismo e Cinema Novo em Macunaíma



Por Poliana Bicalho
Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, publicado em 1928 é uma das obras pilares da cultura brasileira. O autor Mário de Andrade busca através de pesquisas sobre a realidade brasileira, a mitologia indígena, visões folclóricas da Amazônia e do resto do país, a fundamentação de uma nova linguagem literária, que lança outras informações culturais diferentes de tudo que era consumido em termos literários pela sociedade brasileira da época.
Macunaíma dialoga diretamente com o movimento antropofágico (1928), criado por Oswald de Andrade, que buscava uma relação de igualdade real da cultura brasileira com as demais, e não apenas aceitar o que vinha de fora, mas digerir o que seria bom e vomitar o que não prestasse. Em 1969 Macunaíma é transformado em filme, dialogando com o movimento Tropicália (1960) e como Cinema Novo. A recuperação de uma obra modernista no final da década de 60 traduz uma relação íntima entre os dois contextos históricos. A preocupação com o caráter nacional, com a definição do que é brasileiro, em contraposição ao produto importado, as tentativas de descolonizar a produção cultural do país, são traços marcantes do modernismo e do cinema novo.
Apesar de Mário de Andrade utilizar técnica cinematográfica de cortes bruscos no discurso do narrador, interrompendo-o para dar vez à fala dos personagens, principalmente Macunaíma, além do foco na 3ª pessoa, percebe-se que na transposição da obra literária para a cinematográfica perca da narratividade e das histórias do imaginário popular. Todavia neste texto não nos aprofundaremos na questão da adaptação.
Macunaíma (108 minutos), dirigido por Joaquim Pedro de Andrade conta a história do personagem Macunaíma, um herói preguiçoso, e sem nenhum caráter ou talvez um brasileiro ingênuo, ‘puro’. Ele nasceu na selva e de negro (Grande Otelo – um dos principais atores das Chanchadas) virou branco (Paulo José). Depois de adulto, deixa o sertão em companhia dos irmãos. Macunaíma vive várias aventuras na cidade, conhecendo e amando guerrilheiras e prostitutas, enfrentando vilões milionários, policiais, personagens de todos os tipos. Depois dessa longa e tumultuada aventura urbana, ele volta à selva, onde desaparecerá como viveu. Macunaíma se contrapõe a uma sociedade moderna, organizada em um sistema racional, frio e tecnológico. Assim, o tempo é totalmente subvertido na narrativa, o herói do presente entra em contato com figuras do passado.
No site http://www.angelfire.com/mn/macunaima/#O%20Brasil Mário de Andrade fala: “O que me interessou por Macunaíma foi incontestavelmente a preocupação em que vivo de trabalhar e descobrir o mais que possa a identidade nacional dos brasileiros. Ora depois de pelejar muito verifiquei uma coisa que me parece certa: o brasileiro não tem caráter. (...)l. E com a palavra caráter não determino apenas uma realidade moral não, em vez entendo a entidade psíquica permanente, se manifestando por tudo, nos costumes na ação exterior no sentimento na língua na História na andadura, tanto no bem como no mal. O brasileiro não tem caráter porque não possui nem civilização própria nem consciência tradicional. (...)”
O Cinema Novo surge com a proposta de mostrar a verdade sobre a realidade brasileira, através de uma forma inovadora de se fazer cinema. Todavia a adesão popular era muito pequena, o público acostumado com as chanchadas que retratava uma visão colonizada, pouco se interessada pelas produções de jovens artistas. “Nosso cinema é novo porque o homem brasileiro é novo e a problemática brasileira é nova e a nossa luz é nova e por isso nossos filmes nascem diferentes dos cinemas da Europa.” (ROCHA, 1981). Para o movimento não bastava investigar a realidade brasileira, era preciso transformá-la. Macunaíma, uma comédia lançada em novembro de 69, foi o primeiro filme verdadeiramente popular do cinema novo, maçado pela abertura do dialogo com as camadas populares e marca a terceira e última fase do Cinema Novo que compreende de 1968 a 1972, sendo influenciada diretamente pelo Tropicalismo, a brasilidade aflorada, uma mesclagem da cultura brasileira com inovações estéticas radicais.




BIBLIOGRAFIA: ROCHA, Glauber. Revolução do Cinema Novo, Rio de Janeiro, 1981
WEBGRAFIA: http://www.angelfire.com/mn/macunaima/#O%20Brasil
http://paulo-v.sites.uol.com.br/cinema/cinemanovo.htm